Uma pessoa vê no mundo o que ela carrega em seu coração.

Bruno Morais
3 min readAug 5, 2020

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É a beleza dentro de nós que torna possível para nós reconhecer a beleza ao nosso redor. A questão não é o que olhamos, é o que vemos. Se você ver algo bom em alguém, lembre-se de que essa bondade não está no alguém, mas em você.

Tá um frio duído e jocoso aqui em Brasília, aquele vento de arribar saia e quebrar linha de pipa e seco igual o beiço do sertão, dito isso resolvi esquentar meus dedos aqui, dar umas paneladas no coração e sanitizar por dentro com aquele álcool trabalhado ao meu gosto, timtim.

‘Se você realmente ama a natureza, encontrará beleza em todos os lugares.” Van Gogh.

Você é um hóspede, veja por esse lado, nesse planeta azul. Cabe a você deixar essa terra um pouco mais bonita, um pouco mais humana? Um pouco mais perfumada, um pouco menos tendenciosa? Eu vejo que cabe. Tudo isso para aqueles próximos hóspedes desconhecidos que virão depois de você e uma brechinha pros que já aqui estão. Vejo que quero validar minha estadia ecoando um peso leve, um peso conectado da minha pequeneza e da minha gratidão. Só se conhece o que se pratica e o costume é rei de tudo.

Cuida do presente, Bruno, porque é nessa estação que você vai passar o resto da sua vida, procure sondar a beleza interior das pessoas com quem convive. Há flores belíssimas e perfumadas que só duram horas. No entanto, apesar de ‘feias’ as pedras duram milênios, realizando fielmente suas tarefas. Aspas para os ditos bem ditos, hospedeiros de outrora que ainda ecoam;

‘Já trazes, ao nascer, a tua filosofia. As razões? Essas vem posteriormente.
Tal como escolhes, na chapelaria, a forma que mais te assente…’
Quintana.

‘A todo momento o universo está sussurrando pra você. A sincronicidade é uma coincidência inexplicável e profundamente significativa que agita a alma e oferece vislumbre do próprio destino.’
‘Dentro de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco por meio dos sonhos.’
Jung.

Sincronia, sintonia e sonhos. Pra mim essas palavras guardam tantas máximas que vão ecoar até meus últimos minutos de estadia aqui. Enquanto isso, os desgostos da vida vão me ensinando a arte do silêncio, da introversão, sem desmerecer a escrita. Como disse Cartola, em ‘silêncio de um cipreste’;
Todo mundo tem o direito
De viver cantando

O meu único defeito
É viver pensando
Em que não realizei
E é difícil realizar
Se eu pudesse dar um jeito
Mudaria o meu pensar

O pensamento é uma folha desprendida
Do galho de nossas vidas
Que o vento leva e conduz
É uma luz vacilante e cega
É o silêncio do cipreste
Escoltado pela cruz

Sigo escoltado por minha cruz, a carregando, sem fardos religiosos. A metáfora poético-musicada é uma das minhas grandes paixões, a música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos, a melodia é a vida sensível da poesia.

Hoje mais que nunca eu queria estar no meio do mato lendo meu livro quietinho, após ter ouvido e dançado ao som de um vinil, tomando uma bebida quente. Sabendo que se eu olhasse pro lado eu teria ela pra eu dar uns beijo… A vida fica muito estranha sem ter uma coisa pra esperar; acho que sigo esperando momentos como esse ou acho que preciso fazer uma compra on-line.

To com uma sensação que encerrei esse ciclo de sentir sem salientar que sinto. Me expandi de tal forma nesse isolamento que se eu não puder ser do tamanho que sou eu não vou ficar me recortando tanto pra ajustar nem caçando lugar pra esconder sentimento. É gratificante, por vez, sair da adolescência emocional, creio.

Muitas vezes mordemos a isca, a isca dos sites, a isca da aparência, com a ânsia de ser e até aí tudo bem, mas aprender a digerir, a processar, a não esmorecer completamente nos lutos, é essencial. Desativei algumas redes sociais há algum tempo, pois entendi que tudo que sinto momentaneamente e vomitava de forma polida na rede me dava a falsa sensação que lidei com o sentimento original, mas na verdade apenas busquei validação (hora recebia hora não) dos outros doido igual. Ainda sigo buscando validações, mas agora com minha amplitude dilatada nesse período de quarentena consigo ver melhor o tamanho dos meus vazios e lidar com eles, sem reprimir adolescentemente.

Nada na vida deve ser temido, somente compreendido, reciclado. Agora é hora de compreender mais e temer menos. Sigo.

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Bruno Morais

imagination decides everything. metáfora, metalinguagem, metamor e metanóia. escrevo com pretensões de organização emocional e aceitações em geral.