Somos o poema que lemos ou lemos o poema que somos?

Bruno Morais
2 min readFeb 23, 2021

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Questão de leituras. Do espaço momentâneo que você consegue dar para as palavras ocuparem e passearem no seu interior. Das refeições que as palavras podem fazer em você, ou servir, plantar. Dos aromas. Das capacidades. Do esclarecimento. Do clima. Do vento. Dos campos do seu interior.

Preste atenção às coisas pelas quais você é naturalmente atraído, o aroma do nosso dia tem que ter o perfume delas. A quarentena tem me feito sentir o aroma das expressões. O aroma é a combustão da lembrança! Do romantismo que se esvai e do que permanece. Dos contornos habitados do seu mundo.

Um lado ruim do mundo é que toda visão romântica pode ser substituída por um realismo cruel. Culpa de quem em suma? Da palavra deslizante com um punhal cheio de fardo que nos vigia e nos tem como um pet. Fugir é questão de leitura. O remédio para certos incômodos é se afastar. Valha-me letras!

Imagina como deve ser bom viver num mundo onde alegria seja um sentimento completamente distinto de alívio. Culpa de quem em suma? Da palavra deslizante cheia de perspicácia da natureza ingênua de habitar a si mesmo da forma mais onisciente possível. O deguste de uma vigorosa dose de você.

A alma imatura procura a beleza do cálice, não o sabor do vinho. Onisciência possível. Assim como a alma imatura procura o sabor do vinho e não a beleza do cálice. Onisciência possível. A alma madura etc etc etc (ainda não cataloguei).

Percebo que a vida adulta é constantemente perceber que você pode ser ao mesmo tempo mais cruel e mais gentil que você imaginava anteriormente. Isso eu cataloguei. Cheio de palavras habitadas, vivendo sob o contorno da alma que tenho.

Tudo isso envolve uma magia de conectar e a sorte de coincidir. Se o presente te encarar, sustente o olhar!

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Somos o poema que lemos ou lemos o poema que somos?

distribuo
o que procuro
para me encontrar

marco palavras em mim
para vivê-las até amar

amando me leio até poder
despertar

até para quem sabe
a beleza do desgosto

a leveza das asas
define a altura
do voo

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Rogo palavras,

Toda compreensão é poesia. Adélia.

As pessoas são aquilo que elas amam. Rubem Alves.

Tudo aquilo em que ponho afeto fica mais rico e me devora.

O amor é a união de duas solidões que se respeitam. Rilke, poeta alemão.

Rogo também a palavra de um guia pessoal, as de Millôr,

Procuro a capacidade de saber cada vez mais sobre cada vez menos, até saber tudo sobre nada.

Sigo!

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Bruno Morais

imagination decides everything. metáfora, metalinguagem, metamor e metanóia. escrevo com pretensões de organização emocional e aceitações em geral.