Pessoas em cidades pequenas dividem um destino.

Bruno Morais
2 min readFeb 7, 2022

--

Moendo o juízo e trabalhando o adeus. A derivação, justaposição, aglutinação e outros processos da criação da palavra adeus. A deus, entrego o meu destino a toda construção pueril que hoje me permeia. Hoje meu destino é aceitar.

Mais um texto simbólico sobre um fim, para finalizar algumas partilhas que deixam o palco e vão pra plateia. A imagem dela sentou no meu teatro interno, hoje estamos atuando apenas passivamente.

Após anos de gargalhadas, choros, vaias, ressentimentos, angústias, redenções, dramas e amor, um amor de encontros, um amor de decisão, ela desceu do meu palco. Ela foi aplaudida, um aplauso por inteiro em um movimento de agradecimento e de um barulho oco, um barulho que chacoalha a lágrima nos olhos. Um barulho que estabelece conexão com a parte decrescente que ela ocupa em minha memória. Um barulho que gera uma onda sonora provocativa do novo, que libera o futuro para invadir o presente de forma clara, clara de maneira invasora. Nossa performance acabou. Algo ruiu em mim, despencou.

O fim flertou comigo como um pecado capital, ele se apresentava mimeticamente e dizia sempre: começa-te a te despedir. É um pecado não obedecê-lo e eu pequei. Não levei a sério que para fazer entregas a deus, assim como a palavra sugere; (adeus, estou me despedindo de você e te deixando sob os cuidados de um divino interno) eu não quis olhar nos olhos do divino e me despedir dele, da autocomiseração.

Pequei também em não saber que a gente só pode doar saudavelmente o que nos sobra e para quem nos percebe. Relacionamento saudável é entre dois inteiros. Nós já não tínhamos a sensibilidade para nos perceber e a harmonia dos nossos colóquios já era um monólogo sem ritmo.

Quantas demandas emocionais são negligenciadas porque você não está pronto para admitir que as tem. Demandas negligenciadas são o início do fim, é sempre bom atuar com essa lembrança, ela deve ser bradada após alguns diálogos. Certas demandas anseiam por um amparo. O amparo precisa de referência se não ele murcha e tudo fica vazio.

Hoje no meu palco percebo que há várias espécies de amores, um pra cada degrau de amadurecimento, sonhos também. Esses degraus nos levam lá pra comunidade da aceitação, eu acho que vou dar uma passadinha lá. O teatro está fechado para balanço mas não parei de atuar.

Me perdoa. Obrigado, tico. Você sempre terá um lugar no meu peito. A deus.

‘O quanto de repertório e experiência é necessário pra te entender?’ Clarice.

--

--

Bruno Morais

imagination decides everything. metáfora, metalinguagem, metamor e metanóia. escrevo com pretensões de organização emocional e aceitações em geral.