No útero que eu criei eu grito pro abismo.

Bruno Morais
2 min readAug 28, 2021

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Tem épocas que eu caio na minha rachadura e cada metro de queda só me faz olhar pra baixo. Eu decido quando eu paro de cair, mas me falta forças, talvez até vontade. Tem dias que eu só quero cair. Cair pra não flutuar apenas num mundo micro. Cair pra viver esse vício que é reciclar o importante, até fazer o importante estar só dentro de mim, bem pertinho. Engraçado que nessa queda eu não sei o que é peso e o que é leveza que me puxa ou mantém (do nada usei a palavra “engraçado”), são dias que pouca coisa faz sentido. E no final do dia, encostando em uma espécie de chão, constato que talvez eu só precise fazer sentido pra mim mesmo, ao final do dia e muitas vezes no decorrer dele, se não eu caio, plano, caio, plano, … subir é relativo, se elevar é relativo, o negócio é aproveitar enquanto plana e tornar menos desesperador o cair. Queda ‘livre’ talvez faça sentido mas não muito.

Muito louco pensar que tem pessoas que vivem mais de 100 anos e algumas que não passam de poucos anos. Como deve ser vivenciar isso eu não sei, mas com sua licença eu às vezes imagino. Quantos testes de tormentos (quedas) esse indivíduo não passa, quantos sorrisos ele é capaz de dar (plenitude). Cada um vive o seu sentido. Sentir único que constrói, desconstrói e reconstrói sentido, como uma planta que está submissa a alguns fatores que a rodeiam. Fatores que se apresentam diariamente nos fazer construir possibilidades, desconstruir certos achismos e reconstruimos o possível, diariamente. Viver constantemente em negociação com o desejo é como gritar no abismo. Às vezes é até bom, às vezes assusta e de novo: pouca coisa faz sentido.

Se tudo der certo, amanhã é outro dia. Preciso abraçar o cachorro da minha irmã. Esse desejo eu não negocio, eu executo. Caio, plano e executo.

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Bruno Morais

imagination decides everything. metáfora, metalinguagem, metamor e metanóia. escrevo com pretensões de organização emocional e aceitações em geral.