A comparação mata a satisfação!?

Bruno Morais
6 min readFeb 8, 2021

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A comparação é uma operação viciante e pessoal, a satisfação também. Mecanismos Gangorra. De uma forma polarizada, a comparação consegue minar a originalidade da satisfação? Creio que sim. Ficamos vertiginosos ao nos aproximarmos dessa balança alienada.

Abaixo, com dificuldades, vomito meus processos para vocês. Como um rio com quedas, margens, deságues, aclives, secas, mudanças de temperatura, trombas d’água, adaptações, mudanças de curso, encontro com o oceano e linearidades. Um vômito de um bêbado que gosta de beber da fonte mas vê as belezas em tipos de sobriedade.
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É preciso que você saiba disto: nós amamos as pessoas por aquilo de belo que elas fazem nascer em nós. Como se fossem espelhos. Se nos vemos belos naqueles olhos que nos contemplam, nós as amamos. Mas, se nos vemos feios, as odiamos… Rubem Alves.

A comparação surge a partir de uma opinião de mundo. As pessoas parecem não perceber que sua opinião sobre o mundo também é uma confissão de caráter. Ou de um posicionamento atual, cheio de sustentáculos.

Em última análise: eu acabo falando sobre as coisas para não falar muito sobre mim, mas falando das coisas, é sobre mim que eu falo. A gente se alimenta do que fala. E se esvazia também.

Por isso, é uma delícia conversar com gente que dialoga. Um lembrete para mim também; muitas vezes me vejo sem dialogar comigo ou com a minha bolha, só grasno. Acabo só repetindo um padrão de julgamento, com uma paz racional e supérflua. Estou mais atento e paciente a isso.

A paz a gente mantém mantendo a nossa integridade. A paz é resultado do que você sabe sobre você. E paz é serenidade nas comparações também. As aflições dos que nos rodeiam não penetram e se perpetuam em você quando nos conhecemos o suficiente para identificar alguns padrões. Rejeição, complexos maternos e paternos, inferioridade, narcisismo, megalomanias, etc. Exercendo certa paz deixamos de nos comparar tanto e injustamente, bêbados sociais que somos.

Hoje consigo lidar melhor com rejeição. Enxergo com mais clareza quando de alguma forma eu sou rejeitado e travo, no meu mundinho, e tento desempoderar minha reatividade embebida de autossabotagem complexada, em algum nível. Por isso vos clamo: cuide do seu coração porque a sua vida vai para onde ele arrasta.

Quantas vezes você ficou calado pra evitar conflitos e manter a ‘paz’, mas acabou criando uma guerra muito maior dentro de si mesmo? Paz não tem muito a ver com passividade, creio.

Manter a paz não é sobre carregar tudo até não aguentar mais e explodir, é sobre se libertar das cargas emocionais dispensáveis para manter ou almejar um estado de equilíbrio interior ou o mais equilibrado possível.

Muitas pessoas adoecem por guardar tudo só pra si, esse clichê tão real e silencioso. Essa mania de deixar pra lá o que precisa ser esclarecido, é o que faz do seu coração um depósito emocional de situações mal resolvidas.

Quanto mais cedo a gente puder comunicar o que nos faz mal, mais cedo a gente deixa de alimentar sentimentos e emoções negativas. Se doeu, precisa ser dito. Se incomodou, precisa ser verbalizado.

A relação coração-cérebro-estímulos, sempre vigilantes em suas funções e creio que cada um tem seu ego também. Feridos ou afetados, descarregam suas químicas emotivas e precisamos digeri-las e encaminhá-las.

Eu sou mais um ansioso, não clínico ou patológico, mas ansioso. A ansiedade nos deixa reativos, me deixa reativo. Coloco a quinta marcha numa subida que precisa da primeira. Engasgo, desligo. Aí ligo de novo, com calma e atenção plena, respiro, primeira Bruno, controle de embreagem, vamos lá.

A ansiedade não deixa escutar, pouco deixa existir a atenção plena na leitura, nas conversas. Ela mascara os pesos de uma crítica, ela te deixa reativo a ponto de você só ouvir o seu complexo e só falar sobre ele, independente do assunto. Só ele ouve, sua consciência fica entupida! Isso impede o diálogo e a transferência. É preciso lidar com nossa formação reativa se não sofremos extensivamente.

O sofrimento surge com a necessidade da gente de proteger o nosso mundo particular. É preciso dar um peso consciente para viver plenamente as nossas escolhas. Discernir sobre o que realmente precisa de uma defesa vigilante.

Eu e você queremos pertencer e vivemos em busca disso. Querer pertencer e se sentir deslocado é a grande questão, a grande busca, o grande desconforto dos dias, creio.

Dias para serem vividos. Dias para serem enfrentados (dias que o máximo que consigo fazer é existir). Esse foi o meu mantra, minha balança e concepção dessas primeiras semanas de 2021.

Percebo de maneira empírica que o introspectivo precisa de um momento para ser introspectivo e assim recarregar as energias, para renovar o carisma (essencial). O carisma é como uma gaveta de colher que você vai dando uma conforme você conversa e uma hora elas acabam. E eu, atualmente como introspectivo obsessivo constelado, preciso de um momento sui generis para lavar essas colheres. Se não eu acabo descontando de maneira não saudável em mim e em meus próximos.

Hoje quando vou realizar alguma atividade como comer, banhar, cozinhar, lavar a casa, ouvir, ler, caminhar, me pego repetindo mentalmente: Bruno, atenção plena, uma coisa de cada vez, não há necessidade de qualquer controle. Observe as sensações! Esteja presente. Estamos cozinhando? Estamos aqui e somente aqui e agora! Aproveite, já que estamos podendo! Saiba separar os momentos, discerne Bruno!

No trabalho me pego repetindo antes do expediente: Bruno, o dia é seu, não é do seu trabalho, do seu chefe, das suas demandas, é seu. Saiba aproveitar, saiba discernir, o dia é seu!

Tenho chegado melhor aos finais dos dias, mais presente, mais leve, expressivamente. Dá-lhe meu mantra!

Dito isso, creio estar menos obsessivo. O obsessivo é um equilibrista tentando sustentar todas as demandas alheias, até a hora de cair. E quando cai, a culpa é do outro. Estou atento, principalmente sobre as demandas familiares e do trabalho, de olho nas dependências e codependências. Tentando ter menos debates e mais diálogos.

O traço mais sutil da dependência numa dinâmica disfuncional, seja ela de que natureza for, inclusive emocional, é matar a autonomia do outro. E quando você aprende a ver isso, mesmo com empatia, é assustador e esclarecedor. Vigia!

Às vezes você não odeia uma pessoa e sim odeia ver essa pessoa exibindo características que você reprime em si mesmo. Você só sabe que superou vieses assim quando se lembra sem raiva.

‘Se você odeia uma pessoa, ela já te venceu’. Gandhi.

É libertador quando a gente percebe que não se encaixa em certos grupos/contextos e aprende a dizer um ‘não’ para certos convites e influências, sem justificativas quilométricas, sem culpa, sem medo. A paz de ser dono das próprias vontades, em alguns âmbitos. Pacificado até então.

Aquela máxima: seu relacionamento com você mesmo define todos os relacionamentos que você tem com os outros.

Introjetando uma forma de receber as coisas que as pessoas fazem com menos pessoalidade: não é sobre mim, é sobre elas. E eu curto muito aprender com quem não percebe que está ensinando.

Só erra quem produz. Mas, só produz quem não tem medo de errar. As massas humanas mais perigosas são aquelas cujas veias foi injetado o veneno do medo. Do medo da mudança. Octavio Paz.

Querer ficar onde não te cabe dói, sair do casulo dói, partir pro novo dói… o jeito é escolher a dor que você suporta, no momento. Com serenidade, se possível.

Você não existe pro mundo se não estiver ligado ou ao consumo, ou à produção. Daí o cansaço, a dor do cansaço. A tara da sociedade em buscar e valorizar uma perfeição que não existe, uma perfeição que só deforma e destrói a autoestima das pessoas e ainda deixa algumas viciadas em procedimentos estéticos tenebrosos, daí mais cansaço, mais dores! Descubra o que rege seu descanso e aprenda a descansar. Eu sigo reaprendendo. Terapia! Exercício! Música! Filme! Pessoas esclarecidas! Poesia! Fotos! Leitura! Leitura! Leitura! Pets! Plantas! Cozinhar! Futebol! Bicicleta! Natureza! Sexo! Yoga! Meditação! Rede! Masturbação! Amor!

Cada etapa da alquimia exige paciência. Se estamos passando por um processo de morte é preciso dar tempo de morrer, tempo pra ser enterrado, tempo de decompor, pra então ser tempo de renascer. Não tente pular etapas e querer logo renascer… calma e viva cada estágio, identifique-os terapeuticamente.

Ah, terapia não resolve tudo. Terapia ajuda a colocar as coisas pra fora e te apontar caminhos profissionais, mas se você não romper com as coisas que te fazem mal, nada muda.

Terapia é vida mesmo, das maiores potências. Te faz lidar com coisas que te enlouqueceriam de maneira plena e consciente ou caminhar para isso, ciclicamente.

A ‘verdade’ só atinge quando vira consciência, vigia! Permita que a linhagem dos seus processos tenham vida útil, de forma única e fiel a beleza que só você tem.

Seguimos, intensos da palavra!

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Bruno Morais

imagination decides everything. metáfora, metalinguagem, metamor e metanóia. escrevo com pretensões de organização emocional e aceitações em geral.